Leitura: Americanah, Chimamanda Ngozi Adichie
Por mais severo que seja o tempo, ele não pode apagar um verdadeiro amor, ele não pode mudar o que nós realmente somos.
Antes de ler Americanah, eu li alguns comentários sobre como o livro trata o feminismo e principalmente a questão racial, foi isso que levou-me a lê-lo depois que eu descobri a sua existência graças a uma postagem de Taís Araújo no Instagram ( Realmente, obrigada Taís!). Mas depois de ler, eu estou surpresa que os leitores não ressaltam a incrível história de amor entre Ifemelu e Obinze.
As primeiras páginas são uma grande descoberta, o blog de Ifemelu, a forma que ela fala com propriedade sobre as discrepâncias raciais. Como mulher negra eu soltava um suspiro a capa página com o pensamento de que finalmente eu encontrei alguém que me entende no mundo.
Mas isso não é o suficiente, sempre há o risco de um romance ser engajado e não ser engajador, Chimamanda fala sobre o que eu sinto e da forma que eu sinto. Profunda, mas com clareza, eu cansei desses escritores tão ambuiguos, realista, mas com um lirismo encantador. O estilo dela me lembra muito Lygia Fagundes Telles.
Chimamanda não tem pudores para falar sobre o racismo nos Estados Unidos, mais interessante é que ela consegue captar e descrever a diferença entre os grupos raciais, brancos, não brancos, negros americanos, africanos. Não somos todos só humanos e admitir as diferenças é fundamental.
O livro tem mais de 500 páginas, mas cada uma delas merece ser lida, Ifemelu passa por vários dilemas de toda ou quase toda mulher negra, o preconceito, os problemas no relacionamento com um homem branco, até mesmo a aceitação ou alteração do cabelo natural.
Eu me senti um tanto um peixe fora d’água na questão da Nigéria, o que me levou a refletir em como somos ignorantes sobre a África em geral. Nós estudamos a história europeia e a americana nas escolas e nos acostumamos a essa ser a única parte do mundo sobre a qual interessa ser informados. Eu sei se a rainha da Inglaterra soltar um pum porque o jornal vai informar, mas eu não tenho ideia do que tem se passado nesse continente que também contribuiu tanto para o que nós temos e somos hoje.
Ifemelu é uma mulher crítica e consciente que não se deixa influenciar ou amedrontar, nas voltas que o livro dá por toda a sua vida, é na adolescência que ela conhece Obinze. O garoto prometido pelos amigos para ser o encontro perfeito da menina mais bonita da escola, acaba se apaixonando pela menina mais geniosa, voluntariosa e cheia de ideias. Ele é apaixonado pelos Estados Unidos, mas durante os conflitos do governo militar na Nigéria, greve nas universidades e estagnação, é Ifemelu que faz as malas, ele iria mais tarde.
Ifemelu vê os Estados Unidos pelos olhos de uma imigrante pobre e depois uma blogueira famosa e rica. O que a torna famosa é justamente o blog sobre os problemas raciais. Apesar de alcançar esse sucesso e posição social o plano dela que ninguém pode entender é: voltar para a África.
O livro também conta a trajetória de Obinze, ele não consegue ser aceito nos Estados Unidos, é deportado da Inglaterra, mas consegue fazer fortuna na Nigéria, reconstrói sua vida, mas passa anos sem entender porquê Ifemelu cortou o contato. O bonito da história é que eles vivem outras histórias com outras pessoas, mas eles têm esse tipo de relacionamento que você passa anos sem ver ou falar com a pessoa, mas no reencontro tudo é sempre igual, é como se o tempo não tivesse passado.
É estranho, mas eu sinto que eu devo indicar esse livro ao mundo, eu não entendo como pode alguém não ler Americanah. Apenas leiam e descubram sobre o que eu estou falando." É estranho, mas eu senti a cada acontecimento importante que ocorreu na minha vida, que você seria a única pessoa que entenderia"
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