Banguê - José Lins do Rego

Eu demorei muito para continuar o ciclo da cana-de-açucar lendo Banguê. Mas isso foi muito bom porque a história me pegou um pouco mais preparada para ela. Porque Banguê não é um livro fácil. Acredito que desde Lolita eu não sentia tanta repugnância por um personagem narrador. Assim é Carlos de Melo, neto do senhor de engenho José Paulino, volta dos estudos sem nenhuma ideia superior. Imaginei, como em outras histórias, ler algo mais romântico, alguém que volta da universidade com ideias revolucionárias, que não aceitaria viver da exploração dos negros, mas ele repete a história dos seus.
Carlos volta para o engenho, sem propósito certo, apenas passa os dias na rede, sendo olhado torto por familiares e serviçais. Sofre de algum tipo de ansiedade, algo que o impede de tomar iniciativa para qualquer utilidade. O avô está às portas da morte. A única coisa que anima o jovem é a chegada de uma moça casada que sofrendo também de nervos vai passar uns dias no engenho.
As descrições sobre a vida dos trabalhadores, das crianças e principalmente das mulheres são duras de se ler sem vomitar. O Carlos e os homens de sua família tratam essas mulheres como nem os selvagens deviam tratar no passado, usando sexualmente sem nenhuma cerimônia, largando as pobres esperando filhos deles, para um destino de pobreza e prostituição e depois as desprezavam ainda mais por ser aquilo em que eles as transformaram.
Seus filhos são criados no meio da miséria sendo explorados junto com todos os outros que fizeram as riquezas desses engenhos. Algumas vezes a amante e Carlos falavam em escrever um livro sobre aquela pobreza, mas logo o mesmo desistia sabendo que também era responsável pela situação dos trabalhadores.
Carlos não tem energia nem mesmo para organizar e manter o engenho que vai decaindo. Coloca os olhos em um negro que nascido na miséria e trabalhando duro consegue melhores resultados do que ele que, como outros ricos, nunca precisou trabalhar e tem toda a propriedade e homens à sua disposição. Passa dias e noites com medo de ser traído, assassinado, com medo do avanço das usinas.
É um livro muito melancólico que naturalmente não recomendaria para ninguém, no entanto, é preciso conhecer nossa história. Nessa saga escrita por José Lins do Rego podemos entender como funcionavam os engenhos, de onde saia esse açúcar tão amargo. É tudo muito revoltante ler sobre um homem que detém tanta terra enquanto outros precisavam de humilhar e pagar caro para plantar uma horta e alimentar a família.
Sem mais o que dizer, estou aliviada de ter terminado e poder ler algo mais leve. Deixarei Fogo morto para outro momento.

Quotes:

"Não fumava, e nenhum livro com força de me prender. Que doença da vontade era aquela que me deixava ao léu, pano mole sujeito a todas as ventanias"

"O bicho sabia tirar tudo da terra, amanhecendo no serviço, anoitecendo no rito, aproveitando até o último minuto do dia. Com ele o dia tinha mesmo doze horas. Seu segredo era esse (...) Aquele negro, ali perto de mim, me humilhava."




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Comentários

  1. Eu imagino que deve ser bem pesado mesmo... Mas concordo com você, nós precisamos entender nossa história e como chegamos até aqui com tudo que possuímos.
    Porém, não estou querendo ler algo que me deixa revoltada e estressada no momento hahah, passei um ano inteiro lendo livros desse tipo e agora estou no meu ano sabático <3 Quando eu estiver pronta, com certeza irei ler!

    xoxo
    Fora do Contexto

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