Contos de Aprendiz
Sinopse: Drummond não escreveu muitos contos ao longo de sua carreira. Daí a importância de um livro como este Contos de aprendiz. Publicado originalmente em 1951 (mesmo ano de Claro enigma), o livro seria a primeira investida em larga escala do autor numa obra de ficção. Antes, publicara a pequena novela “O gerente” (que faz parte do volume) em uma modesta edição. Os temas dos quinze contos giram praticamente na mesma órbita de grande parte da poesia do autor: o memorialismo, o relato da vida acanhada no interior do Brasil do início do século XX, a observação do cotidiano mais miúdo, uma ironia gentil, a observação - despida de qualquer sentimentalismo - da inevitável passagem do tempo. Tudo arranjado com delicadeza e inteligência.
Eu tinha esse livro há muito tempo e vinha adiando a leitura. Carlos Drummond faz relatos de uma pacata vida na década de 50. Na verdade, os contos satisfazem uma curiosidade sobre a vida, os costumes, naquela época, mas não me empolgaram muito.
Eu pensava até em abandonar a leitura até chegar em "Flor, Telefone, Moça". Ele tem um tom, uma narrativa, um estilo, totalmente diferente dos outros contos presentes no livro. Se eu não soubesse o autor, poderia achar até que é de Lygia Fagundes Telles, pois o estilo de mistério e a medida de sombrio são muito parecidos, mas é Drummond.
Uma moça mora perto do cemitério e gosta de visitar o local, um dia ela pega uma flor e sai do cemitério com ela. Depois disso, passa a receber ligações de alguém que se diz ser o defunto dono da flor e reclama a flor de volta. Ela não dá atenção, pois tem certeza que é uma brincadeira de alguém que a viu pegando a flor.
Mas as ligações continuam, chegam ao ponto de incomodar e mobilizar toda a família. Ela não pode mais devolver a flor porque a perdeu e 'a voz no telefone' não aceita outra flor, só a que lhe foi tirada é que lhe interessa.
Revelação do final
O interessante é que o narrador não revela que é mesmo um defunto, mas a dúvida, a perseguição, os telefones insistentes fazem a moça definhar, não há meios de descobrir um culpado, a voz não aceita nada em troca de sua flor e só para de ligar depois da morte da moça. Genial!
Li tão poucas coisas do Drummond, que é até feio admitir! Uma das minhas metas pessoais e colocar mais clássicos brasileiros na lista de leitura, e Drummond, sem dúvidas, estará entre os escolhidos. Não conhecia esse conto e me deixou bem curiosa, daria uma minissérie ou curta bem interessante, sombrio. Gosto assim!
ResponderExcluirUm beijo!