Um conto para Elizabeth

Saiu da escola no meio do dia, o sol ardente fazendo-lhe suar a ponto de sentir-se derretendo.Os longos cabelos alisados enrolando cedendo à umidade, sua praticidade capilar indo embora, implorando por mais uma escova.Assim como seu cabelo toda ela tenta se modificar, se adequar à situação, a um certo padrão que todas as pessoas devem seguir para serem normais, iguais e felizes. Elizabeth, professora de Língua Inglesa, embora ame mesmo a Literatura, a qual muitas vezes condena por tê-la moldado a ser uma pessoa tão sonhadora. Herdou da mãe os livros e a paixão por Jane Austen.  

Os seus alunos não são como imaginava, a escola não é a que foi preparada para trabalhar. Todas as ideias de transformação que aprendeu na faculdade foram guardadas junto com os livros pedagógicos que só servirão se precisar fazer mais alguma prova. Ela pensou que seria uma professora como o do filme Sociedade dos poetas mortos, mas segue as regras, pois teme ser demitida e precisa pagar as contas. Já esqueceu quando foi que desistiu de ter ideologias, algumas pessoas nasceram para mudar o mundo, outras não conseguem mudar nem a própria vida. Por que se importar? O máximo que pode fazer é se acostumar com a situação e tentar fazer o máximo do que esperam dela.

Em meio a práticas tradicionais, ela se sente em algum lugar do passado, alguma escola interna para freiras, falta a palmatória para harmonizar o quadro. Em um livro, isso seria tão romântico. Nos livros que aprendeu a gostar de ler onde tudo é distante e sublime. 

O motorista do ônibus corre tanto que o livro que abriu foi parar do outro lado. Antes de recuperá-lo se pergunta o que aconteceu com a gentileza das pessoas. Depois de mais um grande sacolejo, resolve desistir de ler e de pensar. Observa a pria de Boa Viagem, poucas pessoas na orla, todo mundo tem tanto o que fazer,o mundo ainda é tão lindo, só falta o tempo para desfrutar.

Uma semana inteira esperando a semana acabar. Um sábado inteiro arrumando a casa, se arrumando, organizando as contas, se organizando, esperando o sábado acabar. Domingo o namorado quer ver filme de terror, vão ao cinema mais cedo porque depois tem o futebol. Ele trabalha a semana inteira, estuda à noite, não pode perder o futebol no domingo. 
Um domingo inteiro pedindo para a segunda-feira não chegar. No fim da noite, abre Orgulho e preconceito, não importa que já tenha lido três vezes, que já tenha renegado seu lado sonhador. Esse é o único momento/lugar onde queria estar.


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