Visita do passado


Devia ser a noite mais desagradável de sua vida, mas não era. Era um reencontro. Um reencontro com alguém do passado. Manuela se via menina com seus grandes olhos a admirar os santos no oratório da avó. Sentia medo e atração por eles. Uma curiosidade sem explicação fazia com que deixasse seus brinquedos para contemplar as imagens de madeira. Ninguém jamais podia mexer ali, eram proibidos pela avó.
Quando fazia uma travessura sentia necessidade de ir lá e pedir perdão à Virgem Maria por ser uma menina tão ruim e chorava rezando com medo do inferno. Um dia quando a avó saiu de casa não entendeu porque a tia quebrou os santos, quebrou todo o oratório, viu os pedaços no quintal, eram tão lindos, não conhecia todos, mas temia a todos e ficava deslumbrada diante deles. A tia lhe mandou ir embora, que não dissesse a ninguém o que viu. Só entendeu quando ouviu cochichos de que os santos guardavam um segredo, eram recheados de ouro. Se tinham realmente ouro nunca soube, pois eles desapareceram pra nunca mais.
Via tudo claramente no sonho, sua tia Emilia, como era na última vez que a viu viva. Ela não podia encontrar um descanso, lhe contou no sonho. Por culpa da ambição, não teve paz em vida, nem depois da morte. Precisava se libertar daquele tesouro maldito. Sim, existia ouro. E devia ser usado para servir o bem. Deveria ser encontrado e entregue à igreja, a uma família necessitada.
Manuela acordou entendendo tudo. Era a responsável para levar paz aquela criatura que vagava há anos com esse peso na consciência, viu a família na miséria sem nunca revelar o tesouro que havia encontrado e enterrado no quintal.
Mas onde? Não podia esperar, não podia dormir. Não sabia das horas. Levantou-se e caminhou pelas ruas desertas em plena madrugada. A antiga casa da família estava abandonada desde que praticamente todos os moradores saíram do povoado em busca do centro da cidade, mas não ficava longe. Logo chegou ao local e sem dificuldade encontrou a casa de sua infância. Onde viveu tanto, foi tão feliz e onde perdeu tanto. Sentiu saudade dos que se foram, tinha lembranças tão vagas. Chegou ao quintal pensando, afinal pra que serviram tantas ambições? Lembrava-se das brigas na partilha quando a avó morreu. Tia Emilia ficava com a casa e disso não abria mão. Ficou. Não foi feliz nunca. Jamais foi rica. Todos se convenceram de que não havia ouro nenhum. O lar disputado agora caia aos pedaços. Tão morto quanto a última moradora.
A lua iluminava perfeitamente o quintal e enquanto cavava sem saber exatamente como procurar, Manuela via o buraco embaixo de suas mãos aumentar. Sentiu uma sombra negra e de mãos macias lhe empurrar rumo ao vazio que se formava a sua frente. Um arrepio percorreu-lhe o corpo. Não era impressão, estava sendo enterrada. Não havia mais o brilho da lua. Tudo era treva. Não era mais um sonho. Era real.

Comentários

  1. obrigada pela visita, seu blog é lindo.
    bjs

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  2. ooi linda, seu blog é muito lindo e você escreve muito bem *-*
    seguindo de volta. Beeijos :*

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  3. Obrigada por me encantar com esse texto! Sem palavras.
    Beijos,
    http://theclassicblack.blogspot.com.br/

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  4. Muito bom seu texto!!!
    Beijos,
    Vanessa Rosa
    www.rosachiclets.com.br

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  5. Seguindo de volta flor!!

    beijos!

    http://pamlepletier.blogspot.com.br/

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  6. Ótimo texto... adorei

    Estou seguindo, retribui?
    Beijos!

    http://segredosdacahlima.blogspot.com.br/

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  7. Minha querida queria agradecer pela sua visitinha e dizer que adorei seu comentário e que também já te linkei e estou te seguindo tá ? Apareça sempre que puder em meu blog, porque daqui pra frente vc vai me ver comentar bastante aqui (risos)

    Estou indo jantar, mais vou ler seu post, porque achei interessante. Mais quero ler com calma.
    Se cuida e fica com Deus Linda

    lovereadmybooks.blogspot.com.br

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