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Mostrando postagens de dezembro, 2013

A zona sul do outro

Minha amiga tem vinte anos e um hímem intacto. Todas as outras amigas acham que ela tem que transar logo, já arrumaram os caras, planejaram os esquemas e se irritaram muito porque ela não topou quanso só estavam tentando livra-la de uma grande vergonha. Acham que ela tem complexo de rejeição ou inferioridade. Porque é errado uma mulher bonita não transar logo. Acham que ela é infeliz e insegura e fazer sexo vai resolver. Algumas delas não são felizes com relacionamentos casuais ou no casamento porque casaram só para não perder a oportunidade, uma melhor poderia não surgir. Não acontece uma conversa em que elas não coloquem a virgindade da outra em questão e apontem soluções, dêem dicas de como resolver logo o problema, de como se arrumar, aonde ir, como agir, o que dizer. Mesmo que ninguém tenha solicitado ou perguntado. Os pais de minha amiga têm orgulho de sua pureza, acham que ela vai ser uma boa esposa e mãe. Ela não é igual a essas outras por aí que saem com o primeiro que aparece

[ Crônica] Consciência

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A chuva fininha que batia em seu corpo franzino era o primeiro banho do dia. Em seus nove anos de vida, Sabrina já aprendera bem a se virar, se acordava com a barriga e doer de fome, era ir à rua onde há comida por toda a parte, sempre uma dona generosa disposta e lhe servir algum resto do jantar da noite anterior. Matar a fome, levar algo para casa, pois a mãe e os irmãos poderiam não ter tido a mesma sorte e assim ia vivendo sem grandes preocupações, aspirações ou questionamentos. Não ia a casas ricas, eles nem abrem a porta. Passando por um desses bairros, havia poucas casas, lojas, depósitos e uma escola. Para em frente à escola um jovem casal, a menina é uma rainha de vestido rodado e esplendorosamente colorido, algumas partes do vestido rosa, outras amarelas, verde-claro, um interminável colorido. Ela entra com seu par e Sabrina tenta acompanhar. Entre ela e a rainha um portão e um enorme porteiro negro que a impede de entrar. Ela ainda olha o penteado da outra, dividido em duas

Quase confissão

Felicidades provocando infelicidades, abrindo feridas disfarçadas em cura. Eu pensei que era pragmática, prática, resolvida. A gente se blinda, eu me blindei tanto em busca de proteção que eu não me lembrava mais do que queria me proteger. Eu queria me proteger de mim, me salvar de ser eu. Eu era as minhas feridas, eu era meus sentimentos não correspondidos, era meu medo de amar, minha insegurança. Escondi isso tudo achando que podia me vencer. Eu era os sonhos que eu tinha e que de tão impossíveis eu também escondi, disfarcei em outros mais realizáveis. Não sei até que ponto eu posso viver sem mim, isso é, sem isso tudo que eu imaginava já ter destruído, mas descobri tão forte aqui dentro. Só pela visão de duas pessoas felizes de verdade, ela era frágil, era aceita assim e não precisava fingir. Então veio tudo, estranhamente não na hora, só o choque. Bem depois veio tudo, as lágrimas, as feridas guardadas, tudo tentando voltar. Se alguém já teve medo de si mesmo pode entender. Achei q

O diário de Bridget Jones e as imposições da sociedade à mulher contemporânea.

Em O diário de Bridget Jones , a narradora-protagonista encarna as possibilidades de problemas enfrentados pela mulher “moderna”. O enredo baseia-se nas suas tentativas de vencer o relógio biológico e conseguir subir na carreira e ter um relacionamento estável. E não é só isso, Bridget acredita que precisa emagrecer porque os homens só gostam das mulheres magras, precisa parecer mais nova porque os homens só consideram interessantes as mulheres até os vinte e poucos, precisa ter alguma decência vinda das ideias feministas para tentar ignorar essas imposições, parar de beber, fumar, organizar a casa. Ninguém disse que a vida das mulheres tem sido fácil nas últimas décadas, as conquistas foram muitas, em consequência vieram, porém, imensos desafios. Em qualquer época, a sociedade e opinião geral encontram uma forma de dizer à mulher qual é o seu papel, pela leitura desse romance-diário, entende-se que não é porque a mulher encontra-se batalhando no mercado de trabalho que ela pode se da