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Mostrando postagens de maio, 2012

Pecado Original

  Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?   Será essa, se alguém a escrever,   A verdadeira história da humanidade.   O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;   O que não há somos nós, e a verdade está aí.   Sou quem falhei ser.   Somos todos quem nos supusemos.   A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.   Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?   Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?   Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas   Sobre o parapeito alto da janela de sacada,   Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.   Que é da minha realidade, que só tenho a vida?   Que é de mim, que sou só quem existo?   Quantos Césares fui!   Na alma, e com alguma verdade;   Na imaginação, e com alguma justiça;   Na inteligência, e com alguma razão —   Meu Deus! meu Deus! meu Deus!   Quantos Césares fui!   Quantos Césares fui!   Quantos Césares fui! Álvaro de Campos