Medo e Liberdade
Ela se foi, mas eu vejo seu sorriso zombando de mim numa manhã de sol. Os dentes tão brancos e felizes como da última vez. Jéssica. Eu repito seu nome e fecho o jornal, passo a mão direita pela pulseira na outra mão, sinto as bolinhas com os dedos. Poderia ser eu? Sou o que chamam de boa menina. Um exemplo. Jéssica deveria ser assim. Se a mãe dela me conhecesse diria isso. Você deveria ser igual a Mariana. Todas as mães querem que as filhas sejam iguais e mim. Eu só queria que fosse tudo diferente. Quando cheguei à escola, o vazio foi tão grande, eu não sabia se não teria aula, mas não é esse o vazio. Sinto como se a escola estivesse fechada há anos, séculos... as almas de meninas de algum antigo internato vagando sem paz, aquelas que fizeram algo que o mundo condena, presas à espera de um perdão. As que nada fizeram condenadas a uma eternidade sem lembranças e sem culpa. Um delas senta ao meu lado no banco, sinto um frio percorrendo meu corpo, mas não sinto medo d...