Do Livro do Desassossego - Fernando Pessoa

Só algumas passagens do Livro do desassossego com as quais me identifico...

"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como
sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a
substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de
milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança
sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo
mais porque vivo maior."

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem
importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."
"De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a
compreensão profunda de estar sentindo...Uma inteligência aguda para me destruir, e um
poder de sonho sôfrego de me entreter...Uma vontade morta e uma reflexão que a embala,
como a um filho vivo..."

"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."

"A solidão desola-me; a companhia oprime-me. A presença de outra pessoa descaminha-me
os pensamentos; sonho a sua presença com uma distracção especial, que toda a minha atenção
analítica não consegue definir."

"O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança. A presença de outra pesoa - de uma só
pessoa que seja - atrasa-me imediatamente o pensamento, e, ao passo que no homem normal o
contacto com outrem é um estímulo para a expressão e para o dito, em mim esse contacto é
um contra-estímulo."
"Os meus hábitos são da solidão, que não dos homens"; não sei se foi Rousseau, se Senancour,
o que disse isto. Mas foi qualquer espírito da minha espécie - não poderia talvez dizer da
minha raça."

"Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram!"



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atividade para o 8º ano - Interpretação de texto/ Gramática

Sugestão de atividade para 6º ano - Interpretação do texto O patinho bonito

Atividade de interpretação 8º ao 9º anos - Medo da Eternidade - Clarice Lispector