Meio sol amarelo - Chimamanda Ngozi Adichie

A vida tentando seguir, apesar de marcada por conflitos e guerras constantes. Na Nigéria, Olanna é a filha de um casal abastado. Ela é muito diferente da irmã gêmea, Kainene, as duas não são muito próximas.
Essas mulheres, por gozarem de uma boa posição social, podem viver com liberdade e morar com o homem escolhido, mesmo sem casar. Embora a família sempre tente incentiva-las a se relacionar com os bons pretendentes, homens que procuram e oferecem vantagens para a família.
Olanna se apaixona por um professor revolucionário, Odenigbo, ele costuma reunir em sua casa outros intelectuais africanos para discutir política e outros assuntos.
Odenigbo tem um empregado, vindo da roça, Ugwu. Antes de trabalhar nessa casa, Ugwu não acreditava que alguém, por mais rico que fosse, poderia comer carne todos os dias. Ele se deslumbra com a casa, a comida, os móveis, cama confortável e se sente muito grato de ter sido escolhido para o trabalho. O patrão tem interesse em fazer com que ele vá a escola e ele tem muito orgulho de trabalhar para um intelectual.
Quando Olanna e Odenigbo já estão morando juntos há um golpe. Pode ser muito informação para quem não conhece muito de História, já que nossas aulas continuam ignorando tudo o que não é Ocidental. 
Kainene se envolve com um homem branco britânico, Richard. Ele se interessa pela cultura local e fez a viagem para escrever um livro, embora ainda não saiba sobre o quê. Richard acaba se sentindo um ibo, como a mulher e não pensa em ir embora, mesmo nos piores momentos.
A narrativa é forte e crua sobre os conflitos e massacres. Não é um livro para pessoas fracas. Um dos momentos mais chocantes é quando Olanna viaja para Kono para buscar uma parente grávida porque os ibos estão sendo assassinados pelos muçulmanos, e ela se depara com uma carnificina. Corpos mutilados pelas ruas, homens procurando mais ibos para matar, pessoas fugindo em trens e ônibus lotados uma mulher carregando a cabeça decepada da filha.
Kainene, Richard, Olanna, Odenigbo e Ugwu acreditam na nova nação, Biafra.
Muitos dão suas vidas nessa guerra, sempre sendo falados que a vitória está próxima e é preciso fazer sacrifícios. 
Os sobreviventes precisam viver se mudando, fugindo dos bombardeios, procurando um lugar onde imaginam que estarão seguros só para precisar fugir mais uma vez.
Alguns ricos conseguem ir para outro país, mas Olanna e Kainene insistem em ficar, mesmo quando os pais partem para Londres.
Homens muito joves e idosos foram recrutados à força para lutar sem treinamento, mulheres enfrentavam estupros coletivos e todo tipo de violência e violação. A subnutrição e outras doenças levavam as crianças, pois até os remédios estavam em falta.
Os homens foram transformados, fizeram coisas que eles próprios condenariam, as mulheres são mostradas como incrivelmente fortes, apesar dos estupros, humilhações, dos filhos mortos, das carnificinas que presenciaram.
A guerra afasta e aproxima pessoas permite reencontros já impossíveis de serem sonhados e perdas e desencontros inimagináveis de tão cruéis e desumanos.
É uma história para ser lida e nunca esquecida. A história daqueles que morreram enquanto o mundo seguia sua agenda normal, mesmo muito perto dali, como se nada tão absurdo estivesse acontecendo.


Quotes


“Meu pai e seus amigos políticos roubam dinheiro com os contratos que fazem com as empresas, mas ninguém os faz ficar de joelhos, implorando o perdão. E com o dinheiro roubado eles constroem casas e alugam para gente como esse homem, a preços exorbitantes que os impedem de comprar comida.”



Você nunca deve se comportar como se a sua vida pertencesse a um homem. Ouviu bem?”, disse tia Ifeka. “A sua vida pertence a você e só a você, soso gi.


Ele escreve sobre fome. A fome foi a arma de guerra da Nigéria. A fome quebrou Biafra, trouxe fama a Biafra e fez Biafra durar o tempo que durou. A fome fez os povos do mundo repararem e provocou protestos e manifestações em Londres, Moscou e na Tchecoslováquia. A fome fez a Zâmbia, a Tanzânia, a Costa do Marfim e o Gabão reconhecerem Biafra, a fome levou a África até a campanha presidencial de Nixon, e fez os pais do mundo todo dizerem aos filhos para raspar o prato. A fome levou organizações de ajuda a fazer transportes clandestinos de comida durante a noite, uma vez que nenhum dos lados conseguia chegar a um acordo quanto às rotas. A fome ajudou a carreira dos fotógrafos. E a fome fez a Cruz Vermelha Internacional chamar Biafra de sua maior emergência, desde a Segunda Guerra Mundial.




Ele escreve sobre o mundo, que permaneceu calado enquanto os biafrenses morriam. Argumenta que a Grã-Bretanha inspirou esse silêncio. As armas e o conselho que os britânicos deram à Nigéria formou outros países. Nos Estados Unidos, Biafra estava “sob a esfera de interesses britânicos”. No Canadá, o primeiro-ministro deixou escapar: “Onde é que fica Biafra?”. A União Soviética enviou técnicos e aviões à Nigéria, vibrando com a possibilidade de influir na África sem ofender norte-americanos e britânicos. E, de suas posições de supremacia branca, África do Sul e Rodésia olharam triunfantes para mais uma prova de que governos liderados por negros estavam fadados ao fracasso. A China comunista denunciou o imperialismo anglo-americano-soviético, mas nada fez para apoiar Biafra. 


Olanna ouvia o som dos aviões à distância, como trovões se formando, e logo depois os nítidos estalos de fogo antiaéreo se espalhando. Antes de entrar no bunker, olhou para cima e viu os jatos bombardeiros deslizando no céu, feito gaviões, voando surpreendentemente baixo, com bolas de fumaça cinza em volta deles. Ao saírem do bunker, mais tarde, alguém disse: “Eles queriam pegar a escola primária!”. “Aqueles ateus bombardearam a nossa escola”, disse a professora Muokelu.

Talvez os vândalos já estivessem lá, de posse da casa da tia, a que tinha teto de zinco. Ou quem sabe a família fugira com as cabras e galinhas, como toda essa gente que chegava a Umuahia. Os refugiados. Ugwu via o pessoal chegando, cada vez mais, todo dia novos rostos nas ruas, na fonte pública, no mercado. Mulheres batendo na porta a todo momento, perguntando se haveria algum trabalho que pudessem fazer em troca de comida. Apareciam com os filhos, magros e nus.


“Nós nunca nos lembramos efetivamente da morte”, disse Odenigbo. “A razão de vivermos como vivemos é que nunca nos lembramos de que vamos morrer. E todos vamos morrer.” “Exato”, disse Olanna; Odenigbo tinha os ombros caídos. “Mas quem sabe é justamente esse o sentido de estarmos vivos? Para negar a morte?”, perguntou ele.

7. O Livro: O Mundo Estava Calado Quando Nós Morremos Para o epílogo, escreve um poema, nos mesmos moldes dos de Okeoma. Com o seguinte título: “VOCÊ SE CALOU QUANDO NÓS MORREMOS?” Você viu as fotos em 68 De crianças com o cabelo ficando ferrugem? Chumaços doentes aninhados nas cabecinhas, Caindo feito folha podre na terra poeirenta? Imagine crianças com braços feito palitos. A pele estirada, uma bola de futebol na barriga. É o kwashiorkor —palavrinha difícil, Mas não feia o bastante, uma pena. Mas não precisa imaginar. Houve fotos Expostas nas páginas em papel cuchê Da sua Life. Você viu? Sentiu um dó rápido E depois se virou para abraçar mulher ou amante? A pele deles ficou castanha como chá fraco, Mostrava uma teia de veias, osso quebradiço;

Comentários

  1. Olá, Daniele.
    Esse foi o primeiro livro que li da Chimamanda e depois dele quis ler todos os outros dela.
    Para mim, foi um a leitura muito impactante. Aprendi muito sobre a Guerra do Biafra na Nigéria, assunto que nunca foi abordado na escola onde estudei.
    Abraços.


    Minhas Impressões

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  2. Eu não conhecia o livro, mas depois de ler essa resenha fiquei completamente apaixonada. Já anotei na minha lista de desejados.
    Amei os trechos que você selecionou, bjs!

    P.S. Estou seguindo o blog para não perder nada!

    Refúgio da Ju

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  3. Ainda não conhecia o livro, mas pela sua resenha ficou bem claro o peso que ele representa, a realidade em que para uns a vida segue naturalmente e outros tem que lutar diariamente para sobreviver. Ótima resenha!

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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  4. Não conhecia o livro, mas gostei muito da resenha! Por enquanto estou evitando ler livros com cenas fortes assim, mas vou deixar anotado pra ler no futuro.
    Beijos
    Bluebell Bee

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