Como ser um bom escritor?

A preparação do Escritor





Muitos grandes escritores falam que o trabalho deles requer trabalho duro, não apenas inspiração. Nem todo mundo que quer escrever precisa ser um escritor nato. Quantas vezes não temos uma grande inspiração, mas não dá em nada porque não temos preparação o suficiente para lapidar o texto?

Nesse livro o autor fala muito na importância de o aspirante a escritor ser um bom leitor, ler os bons, os grandes. Eu acrescento que não necessariamente os mais famosos, vejo muitos escritores de sucesso que usam a mesma fórmula para todos os livros e não acrescentam nada para a Literatura.

Alguns exemplos das aulas:

Primeira aula: O narrador


Carrero declara que o narrador é o personagem mais importante. O autor pode fazer o seu rascunho, mas ele vai entregar isso para o narrador que realmente vai contar a história. Eu concordo com ele, li Dez coisas que aprendi sobre o amor e o livro quase não tem ''história'', por assim dizer, o que o torna interessante é a narração, a forma como essa pequena trama é contada, as listas, as descrições que enfeitam o texto, etc.
Quando li sobre mais de um narrador pensei em que? As meninas, claro, a forma repentina e sutil de quando os narradores se alternam e você de princípio pensa que ainda é o anterior, mas já é outro.

“Morreríamos se adiantasse”, você disse. Lembra? Eu sei, ninguém daria a mínima. Arrancaríamos o coração do peito, olha aqui meu sangue, olha aqui meu coração! Mas tem um tipo ao lado engraxando os sapatos, que cor de graxa o cavalheiro prefere?
— O verde.
Tiro da caixa o verde-malva que está em terceiro lugar na pilha. Tão delicados os lencinhos que Remo mandou de Istambul, adeus meu lencinho.


TELLES, Lygia Fagundes. As meninas

Carrero cita Dom Casmurro, e eu fiquei intrigada porque eu fui uma leitora ingênua completamente enganada pela técnica engenhosa de Machado de Assis. Ele mostra como esse romance tem mais de um narrador, assim como o personagem se divide em Bento Santiago/Bentinho e Dom Casmurro, tudo com a intenção de infernizar os pobres leitores com a traição ou não de Capitu.
Carrero analisa detalhadamente alguns narradores para nos mostrar as técnicas, os perfis e os tipos de narradores.
O que fica evidente é que a escolha e criação do narrador é um processo complexo, mas que deve chegar ao leitor com simplicidade.

Aconselho para quem vai ler esse livro, que conheça os clássicos. Para tirar o máximo dele, você precisa ter uma boa bagagem literária. Para esse primeiro capítulo, pelo menos Dom Casmurro de Machado de Assis e A hora da estrela de Clarice Lispector.

Para terminar cada capítulo, Carrero deixa um exercício.
Escreva breves histórias com narrador:
Na primeira pessoa
Na terceira pessoa
personagem-narrador
narrador inominado

Segunda aula: Sofisticar para simplificar

 Antes de ler essa aula, eu li alguns textos que Carrero escreveu sobre a técnica da escrita, estão no site do Diário de Pernambuco, caso alguém queira ler. Como leitora leiga eu não pensaria nisso, mas eu fiz Letras, eu gosto de estudar o processo da escrita. Algumas pessoas acham que não existe técnica para escrever ou que ela não pode ser ensinada, mas eu discordo. Claro que a técnica não é tudo, mas ela ajuda muito.
Às vezes não gostamos da técnica de um grande escritor  e somos seduzidos por um de técnica mais ordinária. Eu sempre me condenei por não amar A paixão segundo G.H. de Clarice Lispector, agora estou sofrendo para terminar A ilha do dia anterior de Umberto Eco. Eles não me interessaram, gostei de alguns trechos, mas no geral não me seduziram. Acontece.
Sim, a minha intenção é ler um capítulo por semana para poder fazer os exercícios propostos, mas não foi dessa vez que eu consegui fazer.
Nesse capítulo Carrero fala sobre o trabalho duro do escritor, a hora de escrever e reescrever várias vezes até tirar o melhor das palavras. Ele aconselha estudar, ler muito os bons e anotar sempre, nada pode se perder.
Primeiramente o escritor deve criar o conteúdo material que consiste em tudo com relação às 'pessoas', lugares, época, sociedade, enfim, tudo de material da realidade que será usado na estória. Pode ser uma pessoa de uma notícia de jornal, por exemplo, mas o autor tratará se reescrever essa pessoa e história segundo a sua inspiração ou intenção. Não é pra fazer um documentário ou ensaio, é ficção.
Raimundo Carrero me entenderia, ele usa as páginas em branco dos livros que lê para escrever comentários e anotações. Leram isso? Vocês não podem mais me julgar! Eu não sou a única a não resistir a essa tentação.
Com isso vamos ao conteúdo literário: narração, descrições, diálogos, etc.  Você não imagina que Machado de Assis planejou a a narração de Memórias póstumas de Brás Cubas de forma que o narrador-personagem seria um defunto-autor! Com certeza ele pensou em cada detalhe, mas ele chegou a nós quase como uma ideia improvisada. É o que eu chamo de sofisticar para simplificar.

Como esperado, o exercício é para criar o conteúdo material e literário de uma obra.

Terceira aula: A invenção do personagem


Se você vai escrever, provavelmente será sobre alguém. O personagem pode ser encontrado ao acaso, na rua, na televisão, na família. Você vai escolher assim entre alguém que lhe chame a atenção, para começar a escrever o que você vê e transforma-lo em alguém novo depois do seu trabalho com as palavras. Ele começa como alguém que você viu e termina sendo uma criatura sua.
O autor precisa conhecer o personagem, mesmo que não vá colocar todos os detalhes na escrita. Por exemplo, ele sabe a cor dos olhos do personagem, mesmo que nunca escreva isso.
O exercício é claro, é escrever um perfil físico e um perfil psicológico separadamente para um personagem.


Quarta aula: Estudo da montagem do texto.


Mais detalhadamente Carrero mostra como é possível desenvolver a escrita através da inspiração em outro autor. Escreve-se uma pequena cena que depois vai ser aperfeiçoada imitando uma cena escrita por algum escritor que seja notadamente bom. Não é para copiar, é um exercício para aperfeiçoar a técnica. Assim usa-se a observação para liberar a inspiração, então busca-se a técnica e a intuição. No fim todos os livros vieram de um único livro, mas cada um é único em si.
O exercício é exatamente esse, usar um texto de outro autor para montar o seu. Por exemplo, eu usei um trecho de Ciranda de Pedra de Lygia Fagundes Telles.
Não é usurpação, assassinato de texto original, ou plágio, é um exercício, ninguém vai ver o que você escreveu e o resultado final, depois das muitas reescritas e lapidações vai ficar com suas palavras e seu estilo. O original só deu um empurrão!


O autor usa muitos exemplos de como se inspirar usando textos de outros atores, criando cena por cena, capítulo por capítulo. Tudo é muito duro e exige muita prática e esforço, além de muita leitura de poemas e prosa. Você vai escolher em quem se inspirar e portanto precisa ter muita leitura para conhecer as grandes obras.

Comentários

  1. A Preparação do Escritor parece ser uma obra muito boa e com ótimas dicas.
    Adorei a sua postagem; já deu para aprender bastante.

    Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de abril. Serão três vencedores!

    ResponderExcluir
  2. Olá, tudo bem?
    Confesso que nunca tinha parado pra pensar nisso. No quão difícil é colocar em palavras o que sentimos pra que alguém compreenda. O livro me pareceu bem interessante.
    Um abraço,
    http://juliet-in-crisis.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Que post interessantíssimo! Não tenho a pretensão de ser escritora, só escrevo no blog por diversão mesmo, mas achei super legal tudo o que escreveu. Quando fiz meu mestrado é que vi como é difícil escrever. Tudo bem que ali é um tipo diferente de escrita, é toda feita com embasamento científico, mas o pavor da tela em branco é real, haha. Vou deixar salvo seu post, quero procurar esse livro. Um beijo!

    ResponderExcluir
  4. Olá. São dicas bem legais e validas para quem pretende começar a escrever algo. Beijos
    Sil - Estilhaçando Livros

    ResponderExcluir
  5. Já li os dois livros, rs. Dom Casmurro foi uma boa leitura, mas A Hora da Estrela foi sensacional. Um livro carregado com os melhores momentos de boas reflexões, e grandes significados.

    Melhor que ele, só A Paixão Segundo G.H.

    Abraços,
    ser-escritora.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Acho muito difícil colocar em palavras o meu sentimento, e adorei as dicas!
    Bjs❤
    Abrir Janela

    ResponderExcluir
  7. Estive a ver e ler algumas coisas no seu blog que achei muito interessante feito com muito gosto e carinho, virei aqui mais vezes,o que li deu para perceber sua dedicação.
    Gostei de tudo o que vi e li.
    Vim também desejar muita paz.
    Abraço.
    http://peregrinoeservoantoniobatalha.blogspot.pt/

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigada por visitar meu espaço. Fico muito feliz com comentários, mas apenas sobre a postagem. Opiniões, elogios e críticas construtivas são bem-vindos.
Para outros assuntos, use o formulário de contato.

Postagens mais visitadas deste blog

Atividade para o 8º ano - Interpretação de texto/ Gramática

Sugestão de atividade para 6º ano - Interpretação do texto O patinho bonito

Atividade de interpretação 8º ao 9º anos - Medo da Eternidade - Clarice Lispector