Resenha : História do rei transparente - Rosa Montero

Perdão pelas fotos nada artísticas, mas vejam como esses detalhes da capa são lindos!
Eu vou contar para vocês a história do rei trans.... Não! Essa história tem uma espécie de maldição que traz tragédia para quem a conta. Então, vamos ficar com a história de Leola, que de qualquer jeito, é muito mais interessante. 
Essa história se passa na França do século XII, época do Renascimento, mas também de fortes conflitos feudais e religiosos. Leola teria uma vida simples ao lado do amado Jacques, nas terras onde mora com o pai e o irmão, mas o Senhor do feudo ordena que todos os homens sejam levados para a guerra e assim que os seus amados se vão, ela se encontra sozinha e assustada entre cadáveres de homens de ferro.
 “ Escondida dentro de minhas novas roupagens, sinto-me mais segura, protegida, porque é uma desgraça ser mulher e estar sozinha em tempos de violência. ”
Leola rouba a armadura de um dos guerreiros mortos e assim começa a sua aventura. Ela que temia tanto a violência dos homens de ferro, se torna ela própria um homem de ferro, aprende a combater e o desejo de encontrar os parentes e o noivo acabam ficando para trás. No fundo, ela sempre quis conhecer o mundo e tudo de incrível que existia além dos que os seus olhos poderiam ver da sua pequena aldeia.


“Quero ficar aqui com ele, e abrir-me para ele, e enroscar minhas pernas ao redor do seus quadris. Quero ter filhos com ele e viver a bela vida que a pega anunciava. Mas sinto no peito o peso de uma pequena dor, uma dor estranha, como se tivesse saudade de campos que nunca vi e de coisas que nunca fiz, de céus que não conheço, de rios onde não me banhei."
Assim Leola conhece pessoas muito perversas, mas também pessoas sábias e bondosas, ela conhece uma bruxa que viveu nos tempos do grande rei Arthur que vem a ser a sua companheira de toda essa jornada, Nyneve. Leola nunca luta ao lado dos Cruzados porque com a ajuda de Nyneve e de pessoas religiosas, mas tolerantes, ela percebe a crueldade por trás das chamadas Guerras Santas.
 “ Os tempos estão ruins. Mas acredita-me se eu te disser que sempre foi assim. A vida é um tempo ruim que não termina.”
 
Ela conhece a Duquesa Branca Dhuoda que cresceu trancada em um castelo pelo marido, um destino provocado pelo próprio irmão por quem ela vive para ter o prazer de matar. Essa convivência altera a vida dessas duas mulheres para sempre. Leola e Nyneve percorrem aldeias e cidades às vezes combatendo, às vezes procurando a paz. 
O amor platônico por Jacques fica cada vez mais para trás conforme ela conhece outros homens, cujo amor é próximo e real, mesmo não sendo simples e perfeitos como seria em sua antiga vida.
Os relatos sobre as perseguições religiosas são emocionantes, a fúria com que qualquer pensamento contrário é perseguido é perturbadora. Diante disso Leola escolhe lutar contra a igreja e paga um preço caro por isso.
 O que mais me emocionou nesse livro foi a parte em que Leola retorna para sua terra. Tudo não continua no mesmo lugar, mas as pessoas são as mesmas, o ritmo de vida é a mesma. Leola foi camponesa, foi homem de ferro, guerreiro, mercador de sangue, dama, cavalheiro, perseguida como herege, escritora, ela não teria sido nada disso e não teria conhecido nada além do mundo se estivesse apenas ficado esperando os homens voltarem da guerra.

Esse livro mostra que uma mulher pode ter muita coragem para mudar o seu destino, pode ter muitas armas para as diversas batalhas da vida, pode escrever a própria vida.



Citações


 “Sou mulher e escrevo. Sou plebeia e sei ler. Nasci serva e sou livre. Vi coisas maravilhosas em minha vida. Fiz coisas maravilhosas em minha vida. Durante algum tempo, o mundo foi um milagre. Depois a escuridão voltou. A pena treme entre meus dedos a cada vez que o aríete investe contra a porta. Um sólido portão de metal e madeira que não tardará a despedaçar-se. Pesados e suados homens de ferro se amontoam na entrada. Vêm à nossa procura. As Boas Mulheres rezam. Eu escrevo. É minha maior vitória, minha conquista, o dom do qual me sinto mais orgulhosa; e as palavras, embora estejam sendo devoradas pelo grande silêncio, hoje constituem minha única arma.”

 “Quero caminhar por todos os caminhos e ler todos os livros que existem no mundo.”

 “ Desconfia daqueles que têm mais respostas do que perguntas. ”

 “ Há dias, há momentos nos quais a vida te parece pequena. Isso nunca te aconteceu, meu querido Leo? O tempo se detém e o ar que te rodeia torna-se uma jaula estreita e asfixiante. És prisioneira do teu corpo, mas dentro de ti existe algo grande e livre, algo quase feroz que deseja sair. Nesses momentos, eu seria capaz de me lançar da ameia mais alta do meu castelo, e é muito possível que conseguisse voar.”

 

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